CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

China, Índia e Brasil na África: quem está liderando os investimentos e por quê?

A África tem sido um destino estratégico para investimentos globais, com China, Índia e Brasil desempenhando papeis importantes na expansão econômica do continente. Mas qual dessas potências está realmente liderando os investimentos e quais são as motivações por trás dessa corrida?

Primeiro é importante citar que China, Índia e Brasil são países que fazem parte do BRICS, sendo assim, são parceiros. Além desses três países, o BRICS é formado por outras economias emergentes: África do Sul, Rússia, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. O objetivo do grupo é aumentar a influência no cenário internacional. É necessário lembrar que o BRICS não é um bloco econômico. 

O grupo foi formado em 2006 inicialmente com a participação de Brasil, China, Índia e Rússia. A formação se originou após, em 2001, o economista britânico Jim O’Neill indicar o futuro promissor dessas quatro economias. A África do Sul entrou para o grupo em 2011. Em 2023, Jim O’Neill criticou o caminho seguido pelo BRICS nos últimos anos e discordou da expansão do grupo que estava prestes a acontecer em 2024.

A China, assim como a Índia, passou a ser uma grande defensora da expansão do BRICS e, devido à sua força, acabou conseguindo o que queria. Em 2024 Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, e Irã se tornaram membros do grupo e em 2025 aconteceu a adesão da Indonésia. 

Isso mostra o interesse da China em aumentar a sua influência, sendo que, ela já é a segunda maior economia do mundo. 

Considerando esse contexto, vamos abordar a seguir como está se desenvolvendo a  atuação de China, Brasil e Índia no continente africano. 

China: A gigante do investimento em infraestrutura

A China tem sido, de longe, a maior investidora na África nos últimos anos. Com sua iniciativa “Belt and Road” (Nova Rota da Seda), Pequim investiu bilhões de dólares em infraestrutura, como rodovias, ferrovias, portos e usinas de energia. A motivação chinesa vai além do lucro: a África é uma importante fonte de recursos naturais, como petróleo, cobre e cobalto, essenciais para a economia chinesa. Além disso, a expansão da presença chinesa fortalece sua influência geopolítica no cenário mundial.

No Fórum de Cooperação China-África de 2024, o presidente chinês Xi Jinping, manifestou a intenção da China de se tornar líder na modernização do Sul Global*. Ele prometeu gerar um milhão de novos empregos na África e disponibilizar US$51 bilhões em linhas de crédito e investimentos nos próximos três anos. Essas ações geram elogios por parte de alguns e críticas por parte de outros, já que aumentam as dívidas dos países africanos. 

Atualmente a China é o maior parceiro comercial da África. Porém, os africanos exportam matérias-primas e compram produtos industrializados chineses, ou seja, que possuem maior valor agregado. 

Para concluir, há outro valor na África além das matérias-primas: a população. A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que até 2050, um quarto da população mundial será de africanos. Sabemos que uma grande população significa mão-de-obra e mercado consumidor abundantes. 

Índia: oportunidades em tecnologia e comércio

Embora não invista tanto quanto a China, a Índia é o segundo maior credor da África e o terceiro maior parceiro comercial. O país injetou bilhões nos países africanos e apresenta interesse em investir nas parcerias do Sul Global. 

Os investimentos da Índia na África vêm crescendo significativamente nas últimas décadas, impulsionados por interesses econômicos, estratégicos e diplomáticos. O país busca fortalecer suas relações com o continente africano em diversas áreas, como infraestrutura, tecnologia, agricultura e energia. 

Como exemplos de matérias-primas importadas pela Índia dos países africanos estão o petróleo e o gás. 

Brasil: parcerias estratégicas e setor agrícola

O Brasil, por sua vez, tem uma relação histórica e cultural com a África, especialmente com países lusófonos como Angola e Moçambique. O foco dos investimentos brasileiros está no setor agrícola, com empresas como a Embrapa compartilhando tecnologias para aumentar a produtividade africana. Além disso, a diplomacia brasileira busca estreitar laços políticos e comerciais, promovendo um modelo de cooperação Sul-Sul baseado na troca de conhecimentos e no desenvolvimento sustentável.

Nosso país exporta uma variedade de produtos para os países africanos, tais como: óleos combustíveis, produtos alimentícios e máquinas e equipamentos de transportes. Em contrapartida também importa produtos como gás natural, petróleo, minérios, metais, fertilizantes e produtos agrícolas. 

Quem está liderando?

Atualmente, a China continua sendo o maior investidor na África em termos de volume financeiro e alcance de projetos. No entanto, apesar de a Índia e o Brasil manterem abordagens distintas, também exercem influência no continente. A Índia foca em setores estratégicos como tecnologia e saúde, enquanto o Brasil aposta na cooperação agrícola e em laços históricos.

No futuro, o impacto desses investimentos dependerá de como os países africanos equilibram suas parcerias para garantir benefícios sustentáveis e evitar dependências econômicas. A disputa por influência na África está longe de acabar, e os próximos anos prometem novas estratégias e alianças entre essas potências emergentes.

*O Sul Global é um termo usado para se referir a um grupo de países que compartilham características socioeconômicas e históricas, geralmente relacionadas ao colonialismo, ao desenvolvimento econômico e às dinâmicas globais de poder. Esse grupo inclui os países não desenvolvidos. A maioria dos países do hemisfério Sul se encaixa nessa classificação.

Cristiane Alves
Sou professora de Geografia nas redes pública e privada, apaixonada por ensinar e explorar as dinâmicas do mundo. Minha trajetória acadêmica inclui uma segunda graduação em Relações Internacionais, motivada pelo meu interesse em compreender os países, suas culturas e interações globais. Buscando aprofundar meu conhecimento sobre o comportamento humano e as relações econômicas, especializei-me em Psicopedagogia, Geografia Humana e Econômica e em Gestão Estratégica de Pessoas.