CINEMA

“Matemática, resistência e inspiração: O que ‘Estrelas Além do Tempo’ ensina além da história”

Estrelas Além do Tempo (2016) é uma obra inspiradora, além de ser um filme frequentemente lembrado como uma homenagem à superação feminina e racial no contexto da NASA nos anos 1960. 

O roteiro foi baseado na história real das matemáticas Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e  Mary Jackson, interpretadas, respectivamente, por Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe.

O filme conta que, apesar da competência de Katherine, Dorothy e Mary,  elas enfrentaram discriminação racial e de gênero dentro da NASA, sendo constantemente subestimadas e excluídas de oportunidades. No entanto, com perseverança e talento, demonstraram seu valor e contribuíram diretamente para o sucesso da missão que colocou John Glenn em órbita ao redor da Terra.

A riqueza dessa obra vai além da representação histórica e pode ser um excelente recurso pedagógico. Neste artigo, exploramos como o filme pode ser utilizado para ensinar Matemática, Ciências, Geografia, História e até habilidades socioemocionais.

Matemática e a aplicação no mundo real 

Ao acompanhar a trajetória de Katherine Johnson, somos expostos a cálculos avançados e à importância da matemática na exploração espacial. Professores podem usar cenas específicas para demonstrar a aplicação prática de equações diferenciais, geometria analítica e métodos computacionais. Uma atividade interessante seria desafiar os alunos a recriarem cálculos semelhantes com base em problemas contextualizados.

Ciência e astronomia

O filme destaca a evolução dos computadores e o impacto da tecnologia no avanço científico. O momento em que Dorothy Vaughan aprende a programar em FORTRAN é um ótimo exemplo de como a adaptação às novas tecnologias é essencial.

Professores de informática podem usar essa cena para iniciar discussões sobre linguagens de programação e mudanças tecnológicas.

A necessidade de cálculos precisos para lançamentos e trajetórias levou ao aprimoramento dos computadores:

  • Computação de alta velocidade: Os primeiros computadores digitais, como o IBM 7090 da NASA, foram usados para cálculos complexos. Isso acelerou o desenvolvimento de processadores mais rápidos e eficientes.
  • Miniaturização de circuitos: Para reduzir o peso das espaçonaves, a NASA impulsionou a criação de microchips menores e mais potentes, que mais tarde revolucionariam a eletrônica comercial.
  • Softwares de programação: A demanda por controle automatizado levou ao aprimoramento de linguagens de programação e sistemas operacionais mais sofisticados.

Professores de Ciências podem abordar como a competição entre EUA e URSS levou a importantes descobertas astronômicas e tecnológicas:

  • Satélites artificiais: O Sputnik 1 (1957) demonstrou que era possível orbitar a Terra, iniciando a era dos satélites de comunicação e monitoramento meteorológico.
  • Estudo do ambiente espacial: Missões como Apollo e Luna revelaram detalhes sobre a radiação cósmica, o solo lunar e a composição de outros planetas.
  • Exploração planetária: Sondas como a Voyager e Mariner enviaram imagens e dados sobre planetas distantes, ampliando o conhecimento sobre o Sistema Solar.

Geografia e as descobertas tecnológicas

A corrida espacial não apenas expandiu os limites da exploração do espaço, mas também trouxe inovações tecnológicas que hoje fazem parte do nosso cotidiano, como GPS (extremamente necessário para os geógrafos) e a internet via satélite. 

Veja a seguir alguns tópicos que podem ser trabalhados durante as aulas de Geografia.

1. Geopolítica e Corrida Espacial

Tópico: Guerra Fria e disputa entre EUA e URSS

  • Relacionar a história do filme com o contexto da Corrida Espacial (1957-1975) entre Estados Unidos e União Soviética.
  • Explicar como a corrida espacial influenciou o desenvolvimento tecnológico e a expansão do conhecimento sobre o espaço.
  • Discutir a importância do lançamento do Sputnik 1 (URSS, 1957) e da chegada do homem à Lua (EUA, 1969).

2. Tecnologia e desenvolvimento espacial

 Tópico: Uso da tecnologia e a relação com o espaço geográfico

  • Mostrar como a NASA desenvolveu novas tecnologias (satélites, computadores, telecomunicações) que influenciam o mundo até hoje.
  • Discutir o impacto dos satélites artificiais na previsão do tempo, no GPS e nas comunicações globais.
  • Relacionar o avanço da informática, impulsionado pela Corrida Espacial, com a globalização e a revolução digital.

3. Questões Sociais: segregação e trabalho

Tópico: Segregação racial e o papel da mulher na ciência

  • Discutir como a segregação racial nos EUA afetava diferentes áreas da sociedade, incluindo a NASA.
  • Relacionar com as desigualdades sociais atuais no Brasil e no mundo.
  • Debater a participação das mulheres e das minorias no campo científico e no mercado de trabalho.

4. Cartografia e exploração espacial

Tópico: Geografia e o espaço sideral

  • Relacionar a exploração espacial com o estudo da Terra vista do espaço.
  • Explicar como imagens de satélite ajudam na cartografia moderna, no monitoramento ambiental e na previsão climática.

História e questões sociais

 A segregação racial e de gênero é um tema central no filme. Em sala de aula, esse contexto pode ser explorado para entender os desafios da época e compará-los com a realidade atual. Um debate sobre barreiras históricas na ciência pode incentivar reflexões sobre diversidade e inclusão no meio acadêmico e profissional.

No filme, a segregação racial dentro da NASA é fortemente retratada, especialmente nos seguintes aspectos:

  1. Banheiros Segregados
    • No filme, Katherine Johnson é obrigada a caminhar longas distâncias até um banheiro exclusivo para mulheres negras, pois não pode usar o dos brancos.
    • Na realidade, Katherine afirmou que simplesmente escolheu usar o banheiro mais próximo sem pedir permissão, e isso nunca foi um grande problema para ela. Porém, a segregação em outras áreas da NASA existia.
  1. Setores Separados
    • No filme, as matemáticas negras trabalham no prédio do West Area Computing, separado dos funcionários brancos.
    • Isso era real. A NASA herdou essa segregação do Comitê Consultivo Nacional para a Aeronáutica (NACA), seu antecessor. Mulheres negras trabalhavam separadas e tinham menos oportunidades de promoção.
  1. Resistência à Inclusão
    • No filme, Katherine enfrenta resistência para acessar reuniões e informações sobre os cálculos da missão espacial, sendo tratada como inferior por alguns colegas.
    • Na realidade, Katherine conquistou respeito rapidamente. Seus chefes e colegas reconheceram seu talento e a incluíram nas discussões técnicas mais cedo do que o filme sugere.
  1. Personagem de Al Harrison (Kevin Costner)
    • No filme, o chefe Al Harrison destrói a placa do banheiro segregado, simbolizando o fim da segregação no local de trabalho.
    • Esse personagem é fictício e baseado em vários líderes da NASA. Não há registro desse evento, a segregação foi sendo desmontada gradualmente com a crescente participação de cientistas negros.

Habilidades socioemocionais e trabalho em equipe

 O filme também ensina sobre resiliência, empatia e colaboração. As personagens enfrentam desafios com inteligência emocional e persistência. Professores podem propor dinâmicas que incentivem o trabalho em equipe e a superação de dificuldades no ambiente escolar.

Conclusão

Estrelas Além do Tempo não é apenas uma obra biográfica, mas um recurso educacional poderoso. Ao utilizá-lo de forma estratégica, professores podem transformar suas aulas, tornando-as mais envolventes e conectadas com o mundo real. Afinal, a ciência e a educação são feitas de inspiração, e esse filme tem muito a oferecer nesse sentido.

Cristiane Alves
Sou professora de Geografia nas redes pública e privada, apaixonada por ensinar e explorar as dinâmicas do mundo. Minha trajetória acadêmica inclui uma segunda graduação em Relações Internacionais, motivada pelo meu interesse em compreender os países, suas culturas e interações globais. Buscando aprofundar meu conhecimento sobre o comportamento humano e as relações econômicas, especializei-me em Psicopedagogia, Geografia Humana e Econômica e em Gestão Estratégica de Pessoas. Instagram: professoracristianealves